Santo Daime
Foto: Pâmella Ribeiro
A origem da Doutrina do Santo Daime no Brasil remonta à figura de Raimundo Irineu Serra – o Mestre Irineu. Nascido em 1892, no Maranhão, aos 15 anos deixou seu estado natal em busca de melhores condições de vida. Chegou em 1912 ao Acre, onde trabalhou como seringueiro nas regiões de Xapuri, Brasileia e Sena Madureira. Foi nesse período que conheceu a ayahuasca, bebida de tradição indígena produzida a partir do cozimento do cipó Banisteriopsis caapi e das folhas do arbusto Psychotria viridis. Tomou-a com um curandeiro peruano, de nome D. Crescêncio Pisango. No decorrer dos encontros e do uso constante da bebida, Raimundo Irineu começou a ter mirações com um ser divino, a Rainha da Floresta, que o instruiu no caminho espiritual e o orientou em relação à sua missão.
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Nos anos 20, montou o primeiro grupo espiritualista em Brasileia, mas, devido a alguns desentendimentos, acabou voltando para Rio Branco, onde ingressou na Guarda Territorial, chegando ao posto de Cabo.
Entretanto, pediu baixa e foi seguir seu caminho espiritualista quando ganhou do ex-governador Guiomar Santos umas terras. Nelas, construiu uma colônia e fundou o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU). Este local, que passou a ser chamado de Alto Santo, abrigou mais de quarenta famílias, que trabalhavam em sistema de mutirão.
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Mestre Irineu gradativamente se transformou em um reconhecido curandeiro, agregando cada vez mais novos adeptos à Doutrina que vinha fundamentando e à colônia que vinha crescendo. Por meio de seu hinário, “O Cruzeiro”, foi fundamentando os valores espiritualistas da Doutrina, baseados sempre nos princípios morais da honra, da boa conduta, do encontro com a verdade e do alinhamento espiritual. Com o passar dos anos, outros integrantes da seita também passaram a receber hinos que confirmavam os preceitos religiosos e humanitários do Mestre. Dentre eles, destacou-se a figura de Sebastião Mota de Melo, que em pouco tempo angariou, com seu carisma, a simpatia dos companheiros, que passaram a lhe chamar de Padrinho Sebastião.
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Com a passagem do Mestre Irineu, em 1971, a Doutrina do Santo Daime ganhou novas perspectivas, principalmente em relação ao trabalho desenvolvido pelo Padrinho Sebastião, que, após sair do Alto Santo, fundou três comunidades: a Colônia Cinco Mil, em Rio Branco, onde primeiro residiu, o Seringal Rio do Ouro, que por inúmeras dificuldades acabou abandonando, e finalmente a comunidade Céu do Mapiá, no interior do Acre, no coração da floresta amazônica.
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A grande contribuição do Padrinho Sebastião para a Doutrina esteve e está vinculada à sua política de propagar a seita para inúmeros estados brasileiros e até mesmo para outros países. Com isso, a bebida sagrada da floresta chegou aos centros urbanos, propiciando que milhares de pessoas conhecessem a ayahuasca por intermédio das cerimônias do Santo Daime. Em 1990, Padrinho Sebastião fez sua passagem, deixando o Céu do Mapiá ao encargo de seu filho Alfredo Gregório de Melo, atual representante de seu legado.
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Outro aspecto significativo que se encontra vinculado à notória figura do Padrinho Sebastião foi a estreita “aliança” que ele estabeleceu com as entidades da umbanda, principalmente com Seu Tranca Rua das Almas. Juntamente à outra liderança espiritual do Mapiá, que foi Vô Corrente, o Padrinho Sebastião tornou mais sincrética a manifestação espiritualista dentro da Doutrina do Santo Daime, fazendo com que o universo cristão se aproximasse ainda mais da matriz ritualista de vertente africana.
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A trajetória histórica até aqui apresentada é importante para a compreensão do vínculo da Fraternidade Kayman com a Doutrina do Santo Daime, pois foi Chico Corrente, filho de Vô Corrente, quem trouxe o Santo Daime e instruiu o pai da casa, Robspierry Caetano, a dar seguimento à linhagem do Santo Daime dentro da vertente espiritualista do Padrinho Sebastião.
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